A PASCOA, ONTEM E HOJE

A PASCOA, ONTEM E HOJE

Não podemos descartar nem a cruz nem a coroa; nem a desfiguração nem a transfiguração; nem as vestes tintas de sangue nem as vestes brancas como a luz; nem a descida aos infernos nem a subida aos mais altos céus; nem a Paixão nem a Páscoa; nem a humilhação nem a exaltação. Na sexta-feira, Jesus é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (Jo 1.29). No domingo, ele é o Leão da tribo de Judá (Ap 5.5).
Elben M. Lenz César, fundador e diretor da Revista Ultimato.

A palavra Páscoa, pessach em hebraico, significa passagem ou passar por cima (Ex 12.11,23,27). É a primeiras das festas judaicas instituída pelo Senhor após a libertação do cativeiro no Egito, que durou 430 anos. É a festa da liberdade. A comemoração do novo nascimento. De uma vida de escravidão para uma vida independente e livre. Da morte para a vida. Da opressão do jugo para a liberdade de escolha e de ação.

Em Israel, nos dias 14 e 15/09/2015 comemorou-se o Rosh Hashana – O ano novo judaico. Segundo eles estamos agora no ano 5776, a contar da “criação do mundo”. Esse é o calendário Civil. Mas o israelita tem um segundo calendário, o calendário religioso, que inicia com a comemoração da Páscoa, em meados do mês de Nissan ou Abib, o sétimo mês do calendário civil, que corresponde aos nossos meses de março-abril. Todavia esse é considerado o primeiro dos meses do ano em termos religiosos. A partir das Páscoa todas as outras festividades são determinadas. Tudo começa com a Páscoa.

No capítulo 12 do livro de Êxodo lemos, pela primeira vez, sobre a instituição da Páscoa pelo Senhor, para o povo de Israel, então escravizado no Egito, em vias de sua libertação. Está registrado em Ex 12.2 – Este mesmo mês vos será o princípio dos meses; este vos será o primeiro dos meses do ano. Isto nos ensina uma verdade bem simples: a vida de uma pessoa não é realmente de interesse, até que ela comece a andar com Deus, no conhecimento de uma salvação perfeita e de uma paz estável, pelo sangue precioso do Cordeiro de Deus. Não existe nada verdadeiro, nada sólido, nada que satisfaça a alma, senão Cristo. Sem Ele “tudo é vaidade e aflição de espírito” (Ec 2.17). Só n’Ele se encontram satisfação verdadeira e terna; e por isso é só quando começamos a viver n’Ele, d’Ele, com Ele e para Ele que começamos verdadeiramente a viver¹.

O tempo passado nos fornos de tijolos e junto às panelas de carne do Egito não seria mais do que lembranças. O israelita deveria considera-lo como coisa de menor importância, salvo que, a sua recordação deveria servir para despertar o seu sentido daquilo que a graça divina havia realizado em seu favor. Devemos ler a partir do verso dois desse capítulo doze até o versículo onze, para entendermos a providência divina de resgate do povo oprimido, com o intuito de conduzi-lo rumo à liberdade prometida. O memorial desse momento deveria ser a celebração da Páscoa.

A festa da Páscoa começa com a morte de um cordeiro como oferta pelo pecado (Ex 12.2,6). No ritual de celebração da Páscoa visualizamos a redenção do povo de Israel baseada no sangue do cordeiro, segundo o eterno propósito de Deus. A redenção do Egito e a subsequente experiência da entrega da Lei estabelece a identidade do povo judeu como servos de Deus, do único Deus. Este cordeiro era indiscutivelmente uma figura de Cristo, como nos ensina, a passagem da 1Co 5.7: “…Porque Cristo, nossa páscoa, foi sacrificado por nós”.

Esse cordeiro deveria ser morto e comido por toda família, dentro de casa, enquanto o sangue derramado seria passado nos umbrais e nas vergas das portas, protegendo todos os que estivessem dentro de casa, ao redor do cordeiro morto, do anjo da morte (da destruição) que passaria pela terra do Egito. Cada família era a expressão local de toda a assembleia de Deus reunida em torno do cordeiro. Temos o antítipo² deste ato em toda a Igreja de Deus reunida pelo Espírito Santo em nome do Senhor Jesus, da qual cada assembleia em particular, onde quer que se reúna, deve ser a expressão local. Ex 12.11 – Assim, pois o comereis: Os vossos lombos cingidos, os vossos sapatos nos pés, e o vosso cajado na mão; e o comereis apressadamente; esta é a páscoa do Senhor.

As exigências de Deus e a necessidade de Israel foram cumpridas por uma e mesma coisa, a saber: o sangue do cordeiro. O sangue do cordeiro e a Palavra do Senhor, que disse: “venho eu o sangue…”, constituíam o fundamento da paz de Israel naquela noite terrível em que os primogênitos do Egito foram abatidos. O que dava paz era a certeza de que os olhos do Senhor estavam postos sobre o sangue, e que Ele apreciava o seu valor. Isto tranquilizava o coração. O sangue estava de fora da porta, e o israelita encontrava-se dentro de casa, de modo que não podia ver aquele sangue; mas Deus o via, e isso era perfeitamente suficiente.

O sangue do cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo, constitui o fundamento de nossa paz, garantindo-nos uma salvação perfeita, ainda hoje, e sua Santíssima Palavra, com o registro das promessas divinas para nossa redenção, continua nos instruindo nesse sentido. O israelita sabia, não apenas que havia segurança no sangue, mas que estava a salvo. Igualmente, o que todos nós necessitamos saber é que estamos salvos. Não meio salvos ou mais ou menos salvos, mas salvos! Rm 10.9-11 – A saber: Se com a tua boca confessares ao Senhor Jesus, e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo. Visto que com o coração se crê para a justiça, e com a boca se faz confissão para a salvação. Porque a Escritura diz: Todo aquele que nele crer não será confundido.

Entende-se-se que a Festa da Páscoa está ligada diretamente à narrativa neotestamentária da redenção, operada por meio do Senhor Jesus Cristo (1Co 5.7). Portanto, a simbologia da Páscoa encontra-se presente em toda a mensagem do Novo Testamento e a obra da Cruz está fundamentada no evento da Páscoa judaica.

A Páscoa é o centro de comunhão. Israel salvo pelo sangue era uma coisa; e Israel alimentando-se do cordeiro, era outra muito diferente. Estavam salvos somente pelo sangue; porém o objeto em volta do qual estavam reunidos era, evidentemente, o cordeiro assado. O sangue do Cordeiro constitui o fundamento tanto da nossa ligação com Deus como da nossa conexão uns com os outros. É como aqueles que são lavados pelo sangue que somos levados a Deus e ficamos em comunhão uns com os outros. Fora a expiação perfeita de Cristo não pode haver evidentemente comunhão nem com Deus nem com os irmãos.

O Senhor é o nosso centro. Havendo achado paz pelo Seu sangue, nós reconhecemos que Ele é o nosso grande centro de reunião e o laço que nos une. “Porque onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles” (Mt 18.20). O Espírito Santo é o único que promove a reunião; Cristo é o único objetivo em volta do qual nos reunimos; e a nossa assembleia, assim convocada, deve ser caracterizada pela santidade, de maneira que o Senhor nosso Deus possa habitar entre nós. Ex 12.8,9 – E naquela noite comerão a carne assada no fogo, com pães asmos; com ervas amargosas a comerão. Não comereis dele nada cru, nem cozido em água, senão assado ao fogo.

O cordeiro em torno do qual a congregação estava reunida, e com o qual fazia festa, era um cordeiro assado – um cordeiro que tinha sido submetido à ação do fogo. Vemos neste pormenor “Cristo a nossa páscoa” expondo-Se a Si Mesmo à ação do fogo da santidade e da justiça de Deus, que acharam n’Ele um objeto perfeito. Ele pôde dizer: “Provaste o meu coração; visitaste-me de noite; examinaste-me e nada achaste; o que pensei, a minha boca não transgredirá” (SI 17.3). Tudo n’Ele era perfeito. O fogo provou-O e não havia impureza, tudo foi submetido à ação do fogo, e tudo foi achado perfeito. O nosso Cordeiro da páscoa deveria sofrer, na cruz, o fogo da justa ira de Deus; uma verdade, aliás, preciosa para a alma. Ele trouxe-nos para perto de Si para que pudéssemos apreciá-Lo, alimentarmo-nos d’Ele e regozijarmo-nos n’Ele. Cristo apresenta-Se perante nós como Aquele que sofreu o fogo intenso da ira de Deus, a fim de ser, neste caráter maravilhoso de Cordeiro, alimento para as nossas almas redimidas³.

Mas como devia ser comido este cordeiro?- “…com pães asmos; com ervas amargosas a comerão”, Ex 12.8. Se o cordeiro assado representa Cristo sofrendo a ira de Deus em Sua Própria Pessoa na cruz, a celebração da festa com “pães asmos” é figura da separação prática do mal como resultado próprio de havermos sido lavados dos nossos pecados no sangue do Cordeiro e a própria consequência da comunhão com os Seus sofrimentos. A festa dos pães asmos era parte integrante da Páscoa, e durava sete dias. A Igreja, coletivamente, e o crente individualmente, são chamados para andar em santidade prática, durante os sete dias, ou seja, todo o tempo da sua carreira aqui na terra; e isto, note-se, como resultado imediato de haverem sido lavados no sangue, e tendo comunhão com os sofrimentos de Cristo.

Nada senão pão perfeitamente livre de fermento podia ser compatível com o cordeiro assado. A festa dos pães asmos só pode ser guardada sob o abrigo perfeito do sangue. Todos aqueles que, pelo poder do Espírito Santo, têm compreendido a significação da cruz, não terão dificuldade, pelo mesmo poder, de afastar entre eles o fermento. 1Co 5.7-8 – Alimpai-vos, pois, do fermento velho, para que sejais uma nova massa, assim como estais sem fermento. Porque Cristo, nossa páscoa, foi sacrificado por nós. Por isso façamos a festa, não com o fermento velho, nem com o fermento da maldade e da malícia, mas com os ázimos da sinceridade e da verdade.

As ervas amargosas mostram que o crente reconhece a verdade que Ele sofreu por nós. “O castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados” (Is 53.5). Em Cristo nós temos a vida e, no poder desta vida, tiramos o mal. É somente quando estamos libertados da culpa do pecado que compreendemos ou exibimos o verdadeiro poder da santidade. Tentar consegui-lo por qualquer outro meio é esforço inútil.

Assim como aos hebreus foi instituído a Páscoa, para não se esquecerem de onde foram tirados e do modo sobrenatural que Deus interviu para sua libertação, assim também para nós, foi instituída a Santa Ceia, a ceia pascal, porque não podemos nos esquecer de que nosso bendito Jesus Cristo inclinou a Sua cabeça sob o peso das nossas transgressões. Devemos comer o nosso cordeiro com ervas amargosas que representam as experiências profundas e verdadeiras de uma alma que compreende com inteligência espiritual o significado e efeito prático da cruz. Aqueles que são remidos pelo sangue do Cordeiro, e conhecem o gozo da comunhão com Ele, consideram como uma “festa” tirar o mal, limpar-se do fermento, ser participante dos sofrimentos de Cristo e despir-se da velha natureza. Nada mais distante do que se faz hoje, e que recebe o nome de Páscoa.

Os hebreus deviam comer a páscoa como um povo que estava preparado para deixar atrás de si o país da morte e das trevas, da ira e do juízo, e marchar em demanda da terra da promissão, herança que lhes estava reservada. O sangue que os havia preservado da sorte dos primogênitos do Egito era também o fundamento da sua libertação da escravidão do Egito; e agora só lhes restava porem-se em marcha e andar com Deus para a terra que manava leite e mel.

Na atualidade a páscoa continua sendo celebrada pelos judeus em todo o mundo seguindo os preceitos da Torá (livros da Lei), repleta de formalidades e regras ditadas também pela tradição judaica. Uma festividade alegre com muita música e dança celebrada por 8 dias, quando fora de Israel, e 7, em Israel. Tem como ponto central a realização do Sêder de Pessach ou ceia de Páscoa, um jantar especial que simbolicamente conta toda a historia da escravidão no Egito e a conquista da liberdade.

Quando se explica a Páscoa sem Cristo pode-se afirmar que há uma energia no Sêder, e que o ritual da Páscoa em si oferece às pessoas a oportunidade de abandonar seu Egito pessoal que seriam suas “inibições” ou “restrições”, interiores e exteriores, que reprimem o crescimento da pessoa. Egito seria então todo processo de opressão que mantém as pessoas presas, escravizadas e impotentes diante das circunstâncias da vida. Que ao comemorar o êxodo do Egito a Pessach reflete a libertação da alma das coerções psicológicas e emocionais representadas pelo “Egito”. Para o judeu então o sêder oferece a oportunidade de abandonar o Egito pessoal e caminhar em direção à Redenção. Um tipo de pensamento altamente secular, materialista e egocentrico.

Essa, inclusive, é uma explicação por trás do intenso comércio feito por ocasião das datas comemorativas, para chamar a atenção de pessoas incautas e sem conhecimento de Deus e de sua Palavra. Dizem eles: Páscoa é energia, Páscoa é comunhão, Páscoa é partilha, então comprem; comprem; comprem.

Considero as celebrações da Páscoa hoje como uma festividades de maior profanação do ritual sagrado instituído por Deus, tal qual se apresenta nas páginas das Sagradas Escrituras. Ninguém, em sã consciência, objeta que o que presenciamos hoje é um merchandising de grandes proporções tendo como centro e atrativo principal, o coelho e o chocolate. As pessoas nem sequer conseguem associar o evento a outra coisa.

Diante disso entendo que quem celebra a Páscoa, sem a consciência do que ela representa, está tomando um coelho pelo cordeiro de Deus, e ainda tentam explicar que é porque o coelho é símbolo de prosperidade, bem como, o chocolate pelo sangue precioso de Cristo. Isso é pisar o filho de Deus e profanar o sangue da aliança com que foi santificado. A grande questão é que pecar por falta de conhecimento não exime ninguém de sofrer a ira divina.

Hb 10.28-31 – Quebrantando alguém a lei de Moisés, morre sem misericórdia, só pela palavra de duas ou três testemunhas. De quanto maior castigo cuidais vós será julgado merecedor aquele que pisar o Filho de Deus, e tiver por profano o sangue da aliança com que foi santificado, e fizer agravo ao Espírito da graça? Porque bem conhecemos aquele que disse: Minha é a vingança, eu darei a recompensa, diz o Senhor. E outra vez: O Senhor julgará o seu povo. Horrenda coisa é cair nas mãos do Deus vivo.

Nós que já fomos alcançados por tão grande redenção entendemos a profundidade e o alcance de tal memorial. Entendemos que: vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, Para remir os que estavam debaixo da lei, a fim de recebermos a adoção de filhos. Gl 4.4,5. Cumprido o tempo de Deus, e do que era transitório, a promessa se cumpre no filho que é enviado para oferecer de uma vez por todas o sacrifício perfeito.

Pela Palavra somos ensinados que chegando próximo do momento da sua morte Jesus e seus discípulos decidem onde e como haveriam de celebrar a Páscoa e que a celebração da última páscoa por Cristo é também a celebração da primeira Ceia do Senhor. Para inaugurar a nova aliança redentiva Jesus escolheu a ocasião da Páscoa. Tomando o cálice disse: “Porque isto é o meu sangue, o sangue do novo testamento, que é derramado por muitos, para remissão dos pecados.” Mt 26.28. Essa foi a frase que modificou a história. De repente houve uma alteração no ritual da Páscoa, quando Jesus, tomando o pão, abençoou-o e disse: “Isto é o meu corpo”. Com estas palavras a festa pascal se tornou a Ceia do Senhor4.

Não mais a páscoa judaica, não mais a sombra, não mais a figura, não mais o tipo, não mais o provisório. Não mais… Cristo, nossa páscoa, foi sacrificado por todos nós, judeus e gentios. Não mais um ritual sofisticado, somente pão, cálice, simplicidade, sublimidade e um espírito quebrantado de uma vida totalmente entregue a Deus. A última ceia de que Jesus participou com Seus discípulos, na véspera da crucificação foi uma ceia pascal. Portanto, o sacramento da Ceia do Senhor não foi uma nova festa, mas o cumprimento das promessas feitas por ocasião da Páscoa. As palavras de Jesus na última Ceia fazem daquela cerimônia um perpétuo memorial de Sua morte.

1Co 11.24,25 – E , tendo dado graças, o partiu e disse: Tomai, comei; isto é o meu corpo que é partido por vós; fazei isto em memória de mim. Semelhantemente também, depois de cear, tomou o cálice, dizendo: Este cálice é o novo testamento no meu sangue; fazei isto, todas as vezes que beberdes, em memória de mim.

Jesus está sempre ao alcance de quem dEle necessita. Ele não é apenas fonte de vida eterna, como especialmente o sustentador dessa vida. Quem dEle se alimenta viverá eternamente. Jo 6.48-58. Não somos salvos de nossos pecados pelo fato de procedermos corretamente ou por seguirmos uma vida religiosa, mas unicamente por causa da morte de Jesus em nosso lugar. Seu sangue foi por nós derramado e está posto nas “vergas e ombreiras” da porta do nosso coração. A promessa do Evangelho é o que pecador é salvo pelo sangue de Jesus e passa a alimentar-se dEle. Este é o fato que testemunhamos, quando na Ceia do Senhor comemos o pão e bebemos o cálice. Estamos nos alimentando dEle e estamos sobre a proteção do sangue.

Os versículos citados acima mostram o profundo desejo de Jesus de que os membros de Seu corpo jamais se esqueçam daquilo que, por sua vida, ressurreição, paixão e morte na cruz, Ele havia realizado. Uma das razões mais proeminentes da Ceia do Senhor é essa: lembrarmo-nos de Jesus e seu sacrifício vicário (substitutivo). As pessoas se esquecem muito rapidamente do que não deveria. Na Bíblia lembrar é muito mais que simples recordação. Ao ser instituída a Páscoa o Senhor assim falou: Ex 12.14 – E este dia vos será por memória, e celebrá-lo-eis por festa ao Senhor; nas vossas gerações o celebrareis por estatuto perpétuo. Deus esperava do seu povo não apenas a lembrança dos seus preceitos, mas também a sua prática, e por isso a salvação do povo de Deus foi anualmente revivida através da mesma comida, dos mesmos gestos, do mesmo sacrifício, em lembrança do dia de sua libertação. E assim eles fazem até o dia de hoje.

O evento da cruz do calvário é muito mais que um acontecimento histórico, é uma experiência que precisa ser lembrada através da Ceia do Senhor. Essa é a grande celebração da Páscoa ainda hoje. Grandes homens e mulheres sempre foram lembrados por seus feitos em vida, Jesus queria ser lembrado por sua morte. E por quê? Porque a nossa salvação eterna depende única e exclusivamente de Sua morte vicária e a ressurreição dentre os mortos. Somos salvos por meio do corpo partido e do sangue de Jesus Cristo por nós derramado5.

Ao redor da sua mesa, testemunhamos nossa fé no poder dessa morte, nossa confiança no valor desse sacrifício. Nela o cristianismo é alicerçado e por ela ele é arraigado. O sacramento da ceia do Senhor não é para espectadores, mas para participantes. A hora da Ceia é solene, sagrada e puramente espiritual, nada mais deve ocupar nossos pensamentos e nossos sentimentos. Para satisfazer os requisitos bíblicos faz-se necessária a presença do Espírito Santo, é ele que confirma as verdades celebradas; é Ele que torna viva toda a celebração e infunde em nós a profunda reverência com a qual precisamos nos aproximar da Mesa do Senhor. Fora isso, nada é Páscoa.

Essa ocasião comemorativa no calendário secular deve ser um momento de reflexão e instrução para toda igreja: para voltarmo-nos única e exclusivamente para aquele que é a nossa Páscoa: Cristo Jesus o nosso Senhor e Salvador.

 

¹ Parte das reflexões sobre a Páscoa Judaica descrita no Antigo Testamento foi produzida com ajuda da obra de MACKINTOSH, C.H. Estudos sobre o livro do Êxodo. Lisboa, Portugal: Depósitos de Literatura Cristã, 1978.

² Tipo pode ser alguma pessoa, coisa ou cerimônia que se refere (apontam para) a eventos futuros. A palavra grega tupos, que também se traduz por “figura”, tem o sentido de “padrão”, “ilustração”, “exemplo” ou “tipo”. Tipo é o símbolo, a figura, antítipo é o verdadeiro, aquilo à que a figura se refere.

³ MACKINTOSH, C.H. op. cit., p. 118

4 McALISTER, Roberto. A presença real: dimensões bíblicas da Ceia do Senhor. Rio de Janeiro: Editora Carisma, 1981, p. 60.

5 McALISTER, Roberto., op. cit., p. 106.