Sermão do Monte, orientações para a prática da vida cristã – Parte 1

Referência: Mt 5 – 7

INTRODUÇÃO:

O Sermão do Monte demonstra o retrato e a representação do cristão, apresentados pelo próprio Senhor Jesus. Os capítulos 5, 6 e 7 de Mateus revelam as atitudes que definem o caráter do crente, a seguir vamos apresentar um estudo introdutório para essa preciosidade bíblica.

O intenso estudo da Bíblia não significa andar na vontade de Deus, analisar as Escrituras é uma atividade correta, disso se tem dúvidas, no entanto apenas o intelecto do conhecimento bíblico não é suficiente, pois para o crente salvo a prática cristã é fundamento, pois senão a leitura será mero passatempo.

DESENVOLVIMENTO:

A análise do Sermão do Monte, de forma geral, deve ser feita, inicialmente, de forma fragmentada proporcionando uma visão completa e mais geral. ÉÉNão se perde o todo por observar apenas uma parte, não se perde de vista o bosque ao olharmos somente uma árvore. Contudo, entender o texto no geral será o suporte ao entendimento das partes desse sermão. As análise parcial do sermão, se fora do contexto, em geral, fará com que o nosso entendimento seja incompleto.

No sermão do Monte temos uma sequência lógica e com certa sequência espiritual. Jesus não ensinou aleatoriamente, mas havia um motivo especial para a forma que revelou essas verdades. Os ensinamentos contidos neste sermão são um ensino para a conduta da vida cristã e é em vão esperar que o não salvo viva esses ensinamentos.

Esboço do Sermão do Monte

A seguir serão apresentados de forma concisa os principais aspectos do sermão do monte, visando demonstrar a riqueza presente, bem como introduzir os assuntos mais relevantes que serão abordados em estudos posteriores.

Mateus 5:

Forma geral do Sermão do Monte (Mt 5.3-16):

Esse trecho é uma introdução a todo o sermão. Conhecido como as bem-aventuranças. São declarações gerais concernentes aos crentes de todas as gerações e idades sendo o tema geral do sermão. É a pratica de vida que se espera de cada cristão regenerado. Assim como todas as nações tem sua legislação a serem cumpridas, da mesma forma o céu tem a sua legislação, e seus cidadãos precisam cumprir e se enquadrar nela. Do mesmo modo como os governantes implantam as leis de seu governo, o Rei dos reis e Senhor dos senhores, deixou esse manual para que aqueles que almejam morar no céu possam segui-lo. Logo o cumprimento do Sermão do Monte não é uma opção, é sim uma obrigação para nós, os salvos em Jesus. O sermão do Monte não é composto por uma lista de conselhos, mas de ordenanças. Nas bem-aventuranças (Mt 5.3-10), temos a descrição do caráter geral do crente, enquanto em Mt 5.11-12 tem-se a reação do mundo a esse caráter do cristão verdadeiro, ,além disso, em Mt 5.13-16 temos como deve ser a relação entre o crente e o mundo, ou seja, uma descrição da função do crente no mundo e na sociedade que se resume no versículo 16: “Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus”.

Ensinamentos sobre a lei de Deus.

Os preceitos éticos e morais da lei de Deus – Não são transitórios, pois revelam o caráter eterno e imutável de Deus: Santo e Perfeito. Os cristãos devem viver o “espírito da Lei” e não somente a letra da lei. Isso quer dizer que, por meio da lei temos consciência de nossos pecados e não o perdão deles. O fato de Jesus dizer que a justiça de seus discípulos deve ser necessariamente maior que a dos escribas e fariseus demonstra quanto o homem está longe de cumprir os mandamentos de Deus. Jesus nunca anulou o “vestibular divino”. O que Ele fez foi censurar a “escola dos escribas e fariseus”, pois estes, além de não estarem em dia com Deus, atrapalhavam os que queriam levar Deus a sério e entrar no Seu reino (Mt 23.13,15). Paulo da mesma maneira mostra a ação da lei agora, não em seu poder de condenação, mas como meio de instrução, donde então ele escreve: “Toda escritura divinamente inspirada é proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça, para que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente instruído para toda boa obra” (2 Tm 3.16).

Ensinamentos sobre o homicídio,

Não se refere apenas a um homicídio físico literal, mas também a uma explosão de ira ou uma ira guardada no coração de alguém contra outra pessoa. O que Jesus estava ensinando é que qualquer pessoa que maltrata, fala mal, ofende, agride ou guarda rancor contra um irmão, já está sujeito a julgamento e corre o risco de estar indo para o fogo do inferno (v.22). Sentir ódio, nutrir mágoa, alimentar a ira, ou ter um sentimento maligno contra outra pessoa nos leva a afastar-nos dessa pessoa e a fazer de conta que ela não existe, e isto, segundo a Palavra, é um homicídio que acontece no coração. Significa que Deus leva em conta a intenção do coração e a atitude da razão. Embora o ato não tenha sido consumado.

Ensinamentos sobre o adultério

Esse ensino foi destinado tanto aos solteiros quanto a casados, pois usar o corpo de outrem que não seja sua esposa/seu esposo tanto em fantasias, toque ou ato é considerado imoralidade sexual. Não fazemos apologia à repressão sexual, mas precisamos entender que, mediante os textos bíblicos, os solteiros devem preservar a abstinência sexual, pois essa é a vontade de Deus (1 Ts 4.3). Contudo, não existe nenhuma repressão ao prazer oferecido pelo sexo, que para os casados é considerado uma bênção de Deus.

Ensinamentos sobre e o divórcio;

Os preceitos da lei de Moisés relacionado ao divórcio foram ampliados por Jesus num caráter de maior exigência do que a própria lei de Moisés (ver Mt 5.17-48). O divórcio é algo inimaginável para um Cristão que entende o que é amor de Cristo. Como O próprio Cristo nos advertiu, ele ocorre por causa da dureza do coração do homem (mulher). Observamos que em circunstâncias extremas o divórcio acontece. Pela graça de Deus pode haver perdão e reconciliação. Sem dúvidas, as duas condições que separam o casal são: a morte e o pecado. Aquele que entende a graça de Deus percebe que Ele nos perdoou o imperdoável. Um ponto de vista cristão é que a igreja é contrária ao divórcio ainda que a sociedade o aceite sem restrições. Todo aquele que é santificado pela “Verdade” sempre estará em descompasso com os padrões da sociedade, pois a justiça humana nunca foi o modelo mais adequado para o servo de Deus (Is 64.6).

Todas as discussões que giram em torno do divórcio e do direito a um novo casamento precisam ser embasadas na palavra de Deus e serem acompanhadas de precaução e bom senso, incluindo os ensinamentos bíblicos acerca do perdão e do amor.

Deus odeia o divórcio (Ml 2.16) e proíbe o adultério (Ex 20.14; Mt 5.27-28), porém esses não são pecados imperdoáveis. Mas, Jesus espera que Seus discípulos vivam com pureza e sem pecar mais (Jo 8.11; Rm 6.1-2; 1Pe 2.11).

Ensinamentos sobre a forma como o crente deve falar;

A Bíblia ensina que, perante Deus, temos responsabilidade pelo que falamos (Ex 20.7; Nm 30.2; Dt 23.21). Podemos ver que Deus sempre cobrou dos homens uma atitude de responsabilidade por aquilo que falam. Um verdadeiro crente não necessita recorrer a juramentos e promessas para ser creditado, ele deve possuir credibilidade suficiente, de forma, a não necessitar recorrer aos artifícios dos desonestos e mentirosos.

Ensinamentos sobre retaliação e autodefesa;

O crente em Jesus como nova criatura busca manter uma íntima comunhão com Deus, para isso tem que viver e se relacionar com Ele e com os outros dentro dos Seus parâmetros. Entre os muitos ensinamentos da vida cristã presentes no Sermão do Monte está à tolerância, a qual só pode ser exercitada por aqueles que têm de Cristo a mente (1Co 2.16) e o Espírito (Rm 8.9). A tolerância, a cortesia, a gentileza e a consideração pelas outras pessoas, sejam elas simpáticas ou não, é capaz de enriquecer nosso testemunho, nossos relacionamentos e nossa amizade com Deus.

Ensinamentos sobre o convívio do crente com o próximo

A tolerância cristã é uma das maiores virtudes que Deus deseja ver implantada na conduta de seus filhos (Mt 5.48). Naturalmente não podemos atingir essa perfeição, mas podemos tê-la como alvo de nossa vida, principalmente em relação ao amor. Essa qualidade de amor e tolerância deve ser uma constante na comunhão cristã (Jo 15.12), mas também deve se manifestar em nossos relacionamentos com os incrédulos (Rm 13.10).

O amor é um sentimento que inspira filmes, poesias e canções. Não apenas no meio secular, os crentes também gostam de falar de amor, de cantar o amor. Na verdade, todo ser humano precisa amar e ser amado, por isso devemos nos empenhar em demonstrar amor e ver seu reconhecimento.

No entanto, Deus nos chama a manifestar um amor diferente o amor incondicional que é o amor com que Ele mesmo nos amou. Aquele amor que age em favor do outro, muitas vezes sabendo que nada receberá em troca (1 Jo 4.10; Rm 5.8). Viver o amor incondicional que Jesus nos ensina é uma maneira de confirmar nossa filiação em Deus Pai (Mt 5.45).

Aplicando o capítulo 5:

O princípio envolvido em tudo isso é que o crente é preocupado mais com espírito que com a letra. Não que a letra (o conhecimento) não seja de suma importância, entretanto a prática é fundamental. Esse foi um dos erros dos escribas e fariseus, eram mecânicos, conheciam, mas não praticavam. Enquanto a lei julgava as ações a graça apresentada por Jesus, julga até mesmo as intenções, de forma que nossa prática necessita ser verdadeira e não somente para vista.

Mateus 6:

Refere-se à vida do crente diante de Deus, que é em ativa submissão a Sua vontade e totalmente dependente dEle. Esse capítulo em sua totalidade trata do relacionamento entre o salvo e Deus, do princípio ao fim o crente é ensinado e aconselhado a confiar inteiramente em Deus e na Sua providência.É ensinado que não deve se preocupar somente na impressão que causa aos seus semelhantes, mas principalmente no que Deus sabe sobre ele e suas atitudes. Quando o salvo ora, ou dá esmolas sabe que todas as coisas estão patentes aos olhos de Deus e não precisa da apreciação humana. Todas as adversidades da vida e suas necessidades são vistas mediante esse relacionamento com Deus, seja o comer, o vestir, ou mesmo as reações em relação aos acontecimentos externos.

Isso tange o princípio da vida cristã de que a resposta para todas as coisas está em Deus. O nosso relacionamento com Ele deixa a nossa alma mais equilibrada para suportamos as aflições do tempo presente. Quanto maior for nossa intimidade com Deus, menores serão os anseios quanto ao futuro (Sl 37:4, 5). Entender a soberania de Deus em nossas vidas faz parte da didática divina, artifícios esses que Ele usa para amadurecer os seus servos.

A humildade é, talvez, a mais nobre das virtudes cristãs. Embora seja rara e difícil de ser assimilada, a palavra de Deus nos orienta a busca-la (Cl 3.12). A humildade deve ser uma das características do bom cristão, ela possui uma luz que não pode ser vista por quem a emite somente os outros podem percebê-la. Ainda assim estranhamente para a maioria é mais fácil confundir humildade com orgulho. A humildade exige renúncia, exibe discrição, e exala um perfume agradável a Deus, porém é repugnante a sociedade.

Mateus 6.1-4 nos ensina a humildade e não a publicidade de nossos atos.

A pessoa humilde está preocupada com a aprovação do Pai Celestial e não dos homens. Ela não exerce justiça diante dos homens e nem quer ser visto pelos mesmos. Ela quer aparecer para Deus, sabendo que exercer justiça para os homens e ser gloriada por eles não é exercício de justiça. Não é fácil lutar contra a “publicidade” espiritual, mas é necessário. Quem pratica obras ou faz qualquer coisa no reino de Deus com o fim de ser visto pelos homens corre o risco de nada fazer quando ninguém estiver olhando, e já recebeu seu galardão aqui na terra.

Mateus 6.5-8 trata de um importante exercício espiritual que é a oração.

O Senhor Jesus condenou o exibicionismo dos que buscam o louvor dos homens na prática das esmolas e roubam à glória que é exclusiva de Deus, nesta parte do texto, Jesus trata também de outra disciplina espiritual que é o relacionamento individual do cristão com Deus. Aprendemos que os hipócritas gostam de ser vistos orando em locais públicos para mostrar aos outros que são mais “espirituais”. A recompensa recebida era apenas o louvor pessoal.

Jesus quis mostrar aos seus discípulos o grande valor da oração individual. Quem foge da oração, foge de tudo que é bom, como disse João da Cruz (1542-1591). Ele disse também que no silêncio e na esperança está a nossa força; e que o efeito da oração é admirar a beleza de Deus e se alegrar em ser propriedade Dele.

Mateus 6.9-15 nos ensina sobre a essência da oração.

Enquanto nos parágrafos anteriores somos ensinados que devemos evitar o exibicionismo, agora somos exortados sobre o que deve fazer parte de nossa oração. As palavras de Jesus nessa parte entraram para a história como a oração mais mencionada em todo o mundo. Na verdade a oração do Pai Nosso é a uma resposta de Jesus ao pedido dos discípulos (LC 11.1). Ao atender ao pedido de ensina-los a orar, o Senhor ensina que o cristão deve buscar, na oração, o realinhamento com Deus para que possa usufruir os resultados desse relacionamento. Assim como no decálogo, podemos dividir a oração do Pai Nosso em duas partes: relacionamento para com Deus e relacionamento para com o próximo:

  • Relacionamento para com Deus: Pai Nosso, Teu nome, Teu reino e Tua Vontade.
  • Relacionamento para com o próximo: Dá-nos, perdoa-nos, guia-nos, livra-nos.

 

Mateus 6.16-18: Jejuar sem ostentar

Por arrependimento ou por misericórdia, por autodisciplina ou por amor solidário, temos bons motivos bíblicos para a prática do jejum na vida cristã. Jesus nos ensina sua relevância e nos convida a uma vida cristã que envolva o jejum, fazendo com que nossa vida espiritual cresça abundantemente. Não podemos esquecer que Jesus condenou o jejum dos fariseus, pois a motivação deles era errada. Jejum só é válido com motivações corretas diante de Deus, humilhe-se, creia na misericórdia de Deus, pratique a autodisciplina e ajude os que precisam, esse é o jejum que agrada a Deus. Vale sempre lembrar que para orar não precisamos estar em jejum, mas para jejuar precisamos estar em oração.

Mateus 6.19-34: O que é importante, o que é necessário e o que é prioridade.

Nossas escolhas e decisões são diretamente relacionadas com o nosso entendimento e relacionamento com essas três palavras: “importante”, “necessário” e “prioridade”. Não existe nada mais importante que obedecer a Deus. Não existe uma necessidade maior para o crente do que a fé e a confiança, depois de comparar e decidir o que é mais importante e o necessário entenderemos qual é a nossa prioridade: “buscais em primeiro lugar o reino de Deus e sua justiça” (MT 6.33). Não existe uma prioridade mais urgente em nossa vida. Devemos ocupar nossa mente, nosso tempo e energia priorizando nosso relacionamento com Deus, expandindo assim o seu Reino.

Ev. João Paulo de Oliveira Cruz

…….. CONTINUA NA PARTE 2 (EM BREVE)