A MISSÃO DA IGREJA: Eu, como igreja de Cristo, o que estou fazendo?

A MISSÃO DA IGREJA: Eu, como igreja de Cristo, o que estou fazendo?

INTRODUÇÃO

Eu creio que a Bíblia é inerrante, infalível, perfeita e plenamente inspirada Palavra de Deus, e a isso eu me dedico, física, intelectual, espiritual e psicologicamente. Acredito que “Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça;” (2Tm 3.16). Tenho procurado, apesar das minhas limitações, entender sua linguagem, compreender sua mensagem, interpretá-la com ajuda constante do Espírito Santo, aplicar a Palavra escrita ao seu próprio contexto e vivenciar seus ensinos, reconhecendo-os como atuais e poderosos para a salvação de todo o que crê.

Uma das preocupações a que tenho me dedicado é entender a Missão da Igreja, da igreja organismo – corpo vivo do Senhor Jesus Cristo – e da igreja organização – empreendimento humanamente constituído para servir de apoio às atividades espirituais e sociais desenvolvidas pela igreja-organismo.

A finalidade dessa reflexão é discernir a integralidade do propósito de Deus para essa Igreja – Corpo de Cristo. Essa Assembleia convocada e constituída por todos os que saíram do mundo com suas concupiscências, ao responderem ao chamado de Jesus. Todos os que anseiam servir melhor ao seu Senhor e ter uma visão exata da magnitude de tudo isso que temos diante de nós, deveriam desenvolver a mesma preocupação.

I. O propósito de Deus para sua igreja

Antes de mais nada, precisamos crer que a missão mais importante da igreja não é proclamar o evangelho, não é se expandir, e tampouco conquistar a mídia e impactar a sociedade. A primeira missão da igreja é morrer. É perder os valores da carne e ser revestida com os valores de Deus. É se “desglorificar” para glorificar a Deus¹.

A pós-modernidade colocou diante de nós um caleidoscópio eclesiástico muito revelador, que chega a ser tão trágico em alguns sentidos que muitos já estão optando por servir a Deus a seu próprio modo, independentemente de qualquer vinculação com igreja. Vide os número cada vez maior dos que se identificam como “sem religião”.

Nós temos aprendido com a Santa Palavra de Deus a perseverar “na doutrina dos apóstolos, na comunhão, no partir do pão e nas orações”, At 2.42. Porque desde o princípio “todos os que criam estavam juntos, e tinham tudo em comum”, At 2.44. A garantia que temos desde a primeira aparição do termo Eclésia no Novo Testamento, é que Jesus Cristo é o seu edificador e seu sustentador e garantiu que as portas do inferno não prevaleceriam contra ela, Mt 16.18.

Quando lemos que a primeira missão da igreja é morrer somos impactados por um modo de pensar que confronta diretamente o espírito de nossa época. Falar sobre a desglorificação da igreja hoje pode parecer uma afronta para muitos que investem tanto para que sua igreja seja reconhecida pela excelência do trabalho que presta socialmente. Mas a excelência do trabalho de uma igreja está na sua tentativa de não se afastar dos propósitos divinos. Não há igreja (organização) perfeita, todavia, a noiva, esposa, corpo, casa, edifício que é a igreja, ou seja, o conjunto dos crentes, já é vista em Cristo,na sua perfeição, e, ao mesmo tempo, formada, pouco a pouco, por obra do Espírito Santo durante esse tempo da graça, com destino ao Céu. Uma vez morta para si mesma a igreja parte, com toda sua força e esplendor, a proclamar o evangelho, se expandir, a conquistar as nações até mesmo através da mídia e impactar a sociedade.

É propósito de Deus para sua igreja a nossa permanência em Cristo, At 11.23, assim como é Seu propósito que cumpramos a Grande Comissão. Essa Grande Comissão, como é chamada, diz respeito ao plano de Jesus para a formação espiritual do seu povo, o crescimento da Igreja e o serviço ao mundo. Antes de subir aos Céus Cristo ressurreto comissionou seus discípulos: Mt 28.18-20; Mc 16.15; Lc 24.46-48. Um termo comum nesses versículos é a palavra toda/todo no sentido de totalidade, plenitude, autoridade. A ordem foi dada por aquele que declarou: “Mas recebereis a virtude do Espírito Santo, que há de vir sobre vós; e ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria, e até aos confins da terra.” At 1.8. Por falta de entendimento adequado a Grande Comissão, na atualidade, tem se transformado numa escandalosa “Grande Omissão”, em seu sentido prático, mesmo entre aqueles que se orgulham de serem reconhecidos como Pregadores do Evangelho.

É propósito de Deus para sua igreja que ela discipule aqueles que o Senhor salva, At 2.47; 11.26. A igreja precisa cumprir seu papel de educadora (discipuladora), porque, quando o Espírito Santo converte alguém ele entrega essa pessoa para a igreja, para que possa ser educado como aluno de Cristo. Na igreja essa pessoa vai aprender com Cristo e seus instrumentos (seus ministros) a ser como Cristo. O único lugar de aprender a ser gente é na igreja, porque a igreja é agente de educação/discipulado sobre o que significa ser pessoa integralmente.

É propósito de Deus para sua igreja que dons e talentos sejam despertados e utilizados em sua máxima capacidade, 1Co 12.28-31. Um caminho excelente tem sido descortinado para aqueles que reconhecem seu lugar no corpo de Cristo e se dispõem a andar em Seus caminhos fazendo Sua vontade.

É propósito de Deus vivamos neste presente século sóbria, e justa, e piamente, aguardando a bem-aventurada esperança e o aparecimento da glória do grande Deus e nosso Senhor Jesus Cristo, Tt 2. Como também é seu propósito que vivamos uma vida de santidade prática, como sal e luz, Mt 5.13,14, para que a todos seja manifestado o plano divino de regeneração da humanidade, através de um viver transformado e pleno.

Nenhum de nós, em sã consciência, pode dizer que já chegou á medida da plenitude de Cristo. Por isso pode-se afirmar que por mais maduro e esclarecido que sejamos ainda não atingimos a estatura de varão perfeito e precisamos continuar aprendendo com o Senhor e com a Sua Palavra. Ainda possuímos uma grande necessidade de crescimento, pois estamos cônscios que mesmo sabendo muito ainda não sabemos o suficiente, nem nunca o saberemos. Estamos a caminho da perfeição (maturidade espiritual), e manifestaremos poder espiritual e grande utilidade nas mãos de Deus, se assim permitirmos.

Eu e você estamos juntos nesse projeto do Reino de Deus porque somos parte indissociável do corpo místico do Senhor Jesus Cristo. Quanto mais rápido entendermos a bênção de termos sido alcançados por tão grande salvação e a necessidade da nossa presença ativa na comunidade de fé onde Deus tem nos plantado, mais nos empenharemos e trabalharemos para a edificação desse corpo. Isso faremos glorificando a Deus, crescendo como pessoa, levando outros a desfrutarem dessa maravilhosa graça, através do nosso testemunho, trabalhando enquanto é dia, porque a noite vem, Jo 9.4.

II. A missão da igreja

O livro de Apocalipse, muito especificamente no capítulo 5, utiliza o glorioso simbolismo de Deus em um trono para nos mostrar a fonte de toda autoridade. Inclusive o capítulo 4 foi escrito para detalhar a grandeza desse trono e do que está assentado sobre ele. Não devemos imaginar algum trono literal, mas como um símbolo de poder, de senhorio, de governo. O que está assentado no trono é o Deus-Pai, criador, todo poderoso cuja missão é exercer sua soberania, seu senhorio, sobre tudo e todos, reinando sobre as nações. Sl 9.7; 47.8; 99.1.

O trono de Deus é também do seu Cristo. É o trono do Cordeiro de Deus, Hb 8.1; 10.12; 12.2; 1Pe 3.22. A missão do Cordeiro de Deus é tirar o pecado do mundo (Jo 1.29) e com seu sangue comprar para Deus a humanidade caída. Jesus Cristo entregou-se por amor a fim de conquistar para nós lugar de honra junto a Deus, restaurando nossa sorte, mudando nossa história e renovando nossa esperança de uma vida de vitória e um futuro de glória, Ap 7.17; Hb 13.12.

Em Ap 5.8,9 lemos que quando o Cordeiro tomou o rolo selado todo céu irrompeu em um cântico de louvor, a Ele. Trata-se do modelo de culto que deve prevalecer entre nós. Sl 29.2; 33.1-3; 98.1; 99.9; Ef 5.19. Nós que ainda estamos nessa terra, vivendo o tempo da graça, precisamos ouvir a voz do Espírito. E o Espírito diz que nossa missão como Igreja é glorificar ao Cordeiro de Deus, porque Ele é digno de receber o poder, e riqueza, e sabedoria, e força, e honra, e glória, e louvor.

Por essa via de interpretação a tarefa principal da igreja é o culto. O culto cristão por excelência praticado nas 24 horas do dia. É preciso aprender a praticar o culto que Deus recebe. Chegar-se para Deus e colocar-se integralmente sob seu senhorio. Primeiramente é preciso aprender a ser crente para depois ser qualquer outra coisa que Deus deseja que sejamos. Ser um discípulo de Jesus além de ser cristão. Sem esse aprendizado nunca saberemos o que, exatamente, Deus quer de nós.

E como a igreja fará isso? Com atitudes aprovadas, segundo o modelo proposto pelas Sagradas Escrituras, tudo com o fim de enaltecer o seu Senhor. Pela revelação da Palavra de Deus somos instruídos a oferecer o melhor de nós, consagrando tudo ao Rei dos reis e Senhores dos senhores.

Essa glorificação ao Cordeiro de Deus pode ser empreendida em várias frentes de trabalho, que deve ser desenvolvida, tanto individual como coletivamente, de acordo com a vocação de cada um, segundo a medida do dom de Cristo (Ef 4.7): Adoração; Oração; Estudo/Ensino da Palavra; Evangelização; Obra Missionária; Obra Social; Dízimos e Ofertas; Ministérios específicos (com crianças, adolescentes, idosos, mulheres, encarcerados, enfermos etc.); Vida de fé comunitária (participação ativa em todas as atividades da igreja, assumindo pessoalmente nossa condição de fiéis, na promoção do Reino de Deus); entre outros. Tudo isso em íntima comunhão, tanto com Deus quanto com os irmãos. 1Co 12.7,18 – “Mas a manifestação do Espírito é dada a cada um, para o que for útil… Mas agora Deus colocou os membros no corpo, cada um deles como quis”.

Ao escrever aos Romanos, Paulo afirma que nós mesmos deveremos nos apresentar a Deus em sacrifício vivo, santo e agradável que é o nosso culto racional. E mais ainda: que deveremos ser transformados pela renovação do nosso entendimento, para experimentar, então qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus. Rm 12.1,2. Primeiro eu e Deus em íntima comunhão. Segue-se, então, o desenrolar de uma vida frutífera, que estará totalmente à disposição do Senhor.

Para Deus não há gente sem importância e não há ninguém que seja inútil para Sua causa. Deus nos chama para o seu serviço não por sermos melhores do que os outros, mas por sermos lavados pelo sangue de Jesus. O fiel ao ser alcançado por tão grande salvação, Hb 2.3, sente-se incumbido de propagar o que gratuitamente recebeu, Mt 10.6-8. O que se propuser a tal, desde o início da sua fé, entenderá a grandiosidade da seara e procurará desenvolver-se a partir do que entende como vontade de Deus para a sua vida. Assim sendo se disporá a ouvir o chamado divino e seguir adiante, avançando, trabalhando para o Senhor, ao mesmo tempo em que consolida sua fé na obediência à Palavra.

O que geralmente acontece é que individualmente a pessoa que nasceu de novo precisa aprender a dinâmica da sua nova vida em Cristo, como também precisa dedicar-se com compromisso e responsabilidade a cada uma das atividades acima descritas. Todavia, coletivamente, ele ou ela ficará à disposição de Deus na condição de vaso para honra, santificado e idôneo para uso do Senhor, e preparado para toda a boa obra, 2Tm 2.21.

O Espírito Santo é quem dirige, motiva impulsiona e faz com que a igreja cumpra sua missão de forma global. Embora conhecendo nossas fraquezas e incapacidade, ao ordenar-nos que fossemos “pregar o evangelho a toda criatura” Jesus nos deu a promessa de capacitar-nos com o poder do Espírito Santo, At 1.8. É na força desse poder que realizamos tudo o que precisamos realizar, para sermos agradáveis a Deus no amado, Ef 1.6.

CONCLUSÃO

Tendo sido edificados na Palavra ainda podemos perguntar: Quem deseja servir a Deus com inteireza de coração? Quem quer ver Deus operar na sua vida de forma extraordinária? Quem quer contemplar de pé sua vitória? Ver sua família salva, seu lar livre de toda opressão? Quem quer ver os seus problemas nas mãos de Deus para serem resolvidos segundo a vontade do Todo-poderoso? Que quer descansar no Senhor, não tendo nenhum cuidado propriamente seu com relação àquilo que não pode resolver? A resposta é simples: preocupe-se em entender qual a sua missão como igreja e faça a sua parte.

Ninguém precisa se preocupar em criar novas modalidades de trabalhos/cultos, para ver Deus operar, o que precisamos é, primeiramente, participar dos que já existem, eles existem por motivos que são anteriores a nós e vão continuar existindo depois que nós já não estivermos aqui; precisamos também ser edificados na Palavra que já é pregada sistematicamente; renovar nossos votos e reassumir nossa posição com Deus e sua obra; e prosseguir adorando, adorando, adorando, que é o que devemos fazer de melhor.

“Tão certo como vive o Senhor” o fruto desse trabalho irá aparecer, e então, cheios, avivados, enriquecidos a bênção de Deus continuará plena, viva, dinâmica, na vida de cada um que assumir integralmente a parte que lhe cabe como membro do corpo de Cristo e der o melhor de si, para que o nome de Deus seja glorificado através da sua vida. O Espírito Santo há de ensinar-nos, como se deve proceder na casa de Deus, a qual é a igreja do Deus vivo, coluna e esteio da verdade, 1Tm 3.15, a fim de sermos instrumentos úteis na grande seara, Lc 10.2.

A pergunta do título retorna a nós: Eu, como igreja de Cristo, o que estou fazendo? Que possamos no mais íntimo do nosso ser respondê-la com toda sinceridade. É de nossa competência nos perguntarmos também se o que temos feito tem sido suficiente, tem acalmado nosso espírito, tem nos dado serenidade para prosseguirmos, mesmo sabemos que poderíamos fazer mais. Como Paulo deveríamos reconhecer nossas fraquezas, nossa finitude, nossas limitações que são muitas, mas continuar dizendo: Eu Prossigo para o alvo, pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus, Fp 3.14.

REFERÊNCIA:

¹ LIDÓRIO, Ronaldo. Missões: o desafio continua. Belo Horizonte, MG: Editora Betânia, 2003, p. 33.

Prª Elienai Castellano